Uma certa discussão acontecia no plano cartesiano.
A linha reta dizia ao círculo:
- Você só anda em círculos e não sabe ir direto ao ponto!
O círculo responde:
- Como assim? Eu ando sempre em torno a um ponto fixo, bem definido, tenho limites claros e não me perco nem me canso como você indo em direção ao infinito. Você pode ir para sempre em busca do infinito mas nunca chegará lá!
E a linha reta contínua…
- Boa desculpa! Você não consegue nem sair dessa trajetória curvilínea, parece um cachorro correndo atrás de seu rabo. Eu tenho uma visão clara do que está a minha frente e o que está atrás de mim.
E o círculo devolve..
- Quem é “narrow minded” é você! Não sabe o que é ser flexível. Sua visão se resume a um ângulo apenas, eu, tenho visão ampla e posso ver em todas as direções!
De repente chega a curva exponencial, incomodada com toda aquela discussão. Tanto a reta quanto a círculo sempre se intimidavam perante a grandiosa exponencial. Ela, como o círculo, também tem visão de vários ângulos e, como a reta, chega direto ao seu objetivo, mas muito mais rapidamente.
- Opa, opa, opa! Que discussão é essa?
- Vocês estão causando aqui no plano cartesiano! Parem com isso! Porque querem competir entre si? São ambos inferiores à mim. A formosa linha reta vai em direção ao infinito conforme seu valor da abcissa também vai em direção ao infinito. Coitada, fica assim para sempre, sem chegar a lugar algum! E você círculo, só anda em círculos e nem sai nem chega em nenhum lugar. Eu, disse pomposamente a curva exponencial, sempre chego a um valor final claro e definido mesmo caminhando na abcissa rumo ao infinito. Não me perco, pois mesmo “chegando ao infinito na abcissa”, eu sempre atinjo meu objetivo, sem precisar ficar esperando um dia chegar. A minha amiga assíntota é a prova viva deste feito único! Quando a abcissa se aproxima do infinito, eu já atingi meu objetivo!
A linha reta e o círculo ficaram com cara de tacho, nenhuma surpresa para quem vive em duas dimensões. Mesmo assim, eles se entreolharam, refletiram e, após um momento em silêncio, a reta deu um olhar 43 para o círculo e disse em seguida:
- Porque não nos unimos? E se você me ajudar e eu te ajudar? Eu aprendo a ser flexível, a ver por outros ângulos e você aprende a ter direção, foco, para seguir com determinação. Desviamos quando precisamos e vamos diretamente ao ponto quando nos favorece. Assim poderemos ser como a curva exponencial!Juntos somos mais fortes!
Não precisamos dizer que o círculo aceitou prontamente. Aliás, chega de se sentir inferior. A curva exponencial se achava a melhor. Agora ambos somaram suas virtudes.
E foi assim que a reta, mesmo narrow minded, ganhou uma visão ampla para ver tudo ao seu redor com a ajuda do círculo. E o círculo saiu de seu moto perpétuo e consegui ir direto ao ponto, com visão clara e objetiva além de sua reconhecida flexibilidade! Nem precisa dizer que a curva exponencial saiu de fininho, pela tangente, seguindo a sua assíntota….
Por incrível que pareça, no mundo abstrato da matemática pura, esses entes geométricos encontraram uma maneira de se ajudarem e transformarem suas realidades, antes ditadas apenas por suas equações matemáticas. Não podemos então ousar e conseguir ir além de nossas crenças? O que nos define? Aquilo que herdamos ou aquilo que aprendemos? E se aprendermos com a diferença do outro? Poderemos construir um mundo mais tolerante e pacífico?
Até eu, o narrador dessa história, fiquei inspirado! Você aí que está lendo, já pensou nisso? Já pensou que pode aprender a aceitar mais quem você é? E também aceitar os outros como eles são? Já parou para refletir que juntos, somos mais fortes? E que não é necessária a discórdia ou a briga?
Ao contar essa história, eu acho que não serei apenas narrador, irei me aventurar em outros lugares, experimentar outros destinos e exercer outros papéis. Daí poderei contar também a minha história. Você leitor, o que acha?